PALAVRA
DE ORDEM NA GLOBO É COMBATER A PALAVRA GOLPE
Embora
a presidente Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar o cargo mais alto da
República, esteja correndo o risco de ser enxotada do poder por "pedaladas
fiscais", sem que suas contas tenham sido sequer apreciadas pelo Congresso
Nacional, num processo conduzido pelo político que hoje simboliza a corrupção,
o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Globo, maior monopólio de mídia do mundo,
tenta convencer a sociedade de que não se trata de um golpe contra a
democracia, mas sim de um processo legítimo; além de um editorial publicado
nesta quarta-feira, o grupo também escalou o articulista Merval Pereira para
repetir a tese de que "não vai ter golpe, vai ter impeachment", como
se a deposição de uma presidente sem crime de responsabilidade pudesse ter alguma
legitimidade; do golpe que promoveu em 1964 (à época chamado de Revolução), a
Globo só pediu desculpas 50 anos depois; por mais que a Globo grite, artistas e
intelectuais, como Wagner Moura, denunciam o processo atual pelo que ele é: um
golpe
Em
abril de 1964, quando um golpe militar apoiado pela Globo solapou as liberdades
individuais e empurrou o País para 21 anos de ditadura, a primeira página do
jornal da família Marinho estampou o editorial "Ressurge a
democracia". Foram necessários nada menos que 50 anos para que o grupo
Globo, que, de mãos dadas com os militares, criou o maior monopólio de
comunicação do mundo, pedisse desculpas à sociedade (confira aqui).
Agora,
em pleno século 21, a Globo está engajada em mais um golpe. Trata-se de
"deseleger" a presidente Dilma Rousseff, anulando seus 54 milhões de
votos obtidos nas últimas eleições presidenciais, em 2014. O pretexto para isso
é a acusação de que ela teria cometido "pedaladas fiscais" – uma
prática comum a todos os governos, numa acusação que beira o absurdo quando se
leva em conta que as contas do governo Dilma nem sequer foram apreciadas pelo
Congresso Nacional, que é quem tem o poder de julgá-las. Para piorar, o
processo de impeachment vem sendo conduzido por um parlamentar que hoje
simboliza a corrupção: o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Portanto,
como a primeira mulher a ser eleita presidente da República corre o risco de
ser deposta sem que tenha cometido um crime de responsabilidade, é de um golpe
que se trata. No entanto, nos últimos dias, a Globo se lançou a uma nova
campanha de desinformação. Trata-se de difundir a tese de que, por estar
previsto na Constituição, impeachment não é golpe. O que a Globo não diz é que,
embora previsto na Constituição, um impeachment não pode prescindir de um crime
de responsabilidade – o que no caso da presidente Dilma inexiste. Na prática,
pela tese da Globo, qualquer pessoa poderia ser acusada de homicídio,
simplesmente porque o crime está previsto no Código Penal.
No
entanto, como a sociedade hoje é mais plural, a Globo tem lutado com todos os
seus instrumentos para vencer a batalha da comunicação. Nesta quarta-feira, publicou
um editorial e escalou o colunista Merval Pereira para repetir a tese de que
"não vai ter golpe, vai ter impeachment". O que importa, para os
Marinho, é consumar o golpe de 2016, sem que sejam condenados pela sociedade ou
pela História.
No
entanto, num artigo cristalino publicado nesta quarta-feira, o ator Wagner
Moura explica, de forma didática, por que a presidente Dilma Rousseff está
sendo vítima de um golpe clássico (leia aqui). Além disso, em artigo recente, a colunista Tereza
Cruvinel, também explicou por que a Globo decidiu combater com tanto afinco a
palavra golpe (leia aqui). Entre os Marinho e Merval ou Wagner Moura e Tereza,
é melhor ficar com a segunda opção.