Com o PSDB imerso na maior crise de
sua história, por ter apoiado o golpe de 2016 e se associado a Michel Temer,
rejeitado por mais de 90% dos brasileiros, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso deixa claro, neste domingo, que os tucanos estão sem rumo e em busca de
um nome para enfrentar o ex-presidente Lula, em 2018; "É tarde para chorar
por impeachments perdidos ou por substituições que nada mudam", diz ele;
"Penso que o polo progressista, radicalmente democrático, popular e
íntegro, precisa se 'fulanizar' em uma candidatura que em 2018 encarne a esperança",
afirma; "As dicotomias em curso já não preenchem as aspirações das
pessoas: elas não querem o autoritarismo estatista, nem o fundamentalismo de
mercado"
Com o PSDB imerso
na maior crise de sua história, por ter apoiado o golpe de 2016 e se associado
a Michel Temer, rejeitado por mais de 90% dos brasileiros, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso deixa claro, neste domingo, que os tucanos estão sem
rumo e em busca de um nome para enfrentar o ex-presidente Lula, em 2018.
É tarde para chorar
por impeachments perdidos ou por substituições que nada mudam", diz ele.
"Penso que o
polo progressista, radicalmente democrático, popular e íntegro, precisa se
'fulanizar' em uma candidatura que em 2018 encarne a esperança", afirma.
"As dicotomias
em curso já não preenchem as aspirações das pessoas: elas não querem o
autoritarismo estatista, nem o fundamentalismo de mercado".
Confira abaixo:
Convicção e
esperança
Por Fernando
Henrique Cardoso
Escrevo antes de
saber o resultado da votação pela Câmara da autorização para que o STF possa
julgar a denúncia oferecida pelo procurador-geral contra o presidente da
República.
É pouco provável
que a autorização seja concedida. Houve precipitação da Procuradoria, que fez a
denúncia sem apurações mais consistentes. Entretanto, para o que desejo dizer,
pouco importa a votação: a denúncia em si mesma e a fragmentação dos partidos
no encaminhamento da matéria já indicam um clima de quase anomia, no qual algumas
instituições do Estado e os partidos políticos se perderam.
Esta não é uma
crise só brasileira. Em outros países em que prevalecem sistemas
democrático-representativos também se observa a descrença nas instituições,
pelo comportamento errático das mesmas, sobretudo no caso dos partidos.
Mesmo nos EEUU, na
Inglaterra ou na França — países centrais na elaboração de ideologias
democráticas e na formação das instituições políticas correspondentes — nota-se
certa falta de prestígio de ambas.
Não falta quem contraste
as deficiências dos regimes democráticos com as supostas vantagens dos regimes
autoritários e mesmo ditatoriais.
O contraste é
falacioso: sobram exemplos de ineficiência nos regimes autoritários, sem falar
na perda de liberdade, individual e pública, cujo valor não pode ser medido em
termos de eficiência dos governos.
Nem faltam casos
para mostrar o quanto podem levar ao desastre regimes que de autoritários
passam a ditatoriais, como na Turquia atual ou, mais impressionantemente ainda,
na Venezuela, onde ocorre um verdadeiro horror perante os céus. Nela, a
inexistência das garantias democráticas se soma ao descalabro
econômico-financeiro.
Não é, contudo, o
caso do Brasil. Houve, é certo, a perda de controle das finanças públicas pelo
governo anterior. Mas nunca se chegou a ameaçar diretamente a democracia. Aqui
o que houve foi a generalização e a sacralização da corrupção, com as
ineficiências decorrentes, aprofundando a perda de confiança popular no governo
e na vida política.
Neste sentido,
estamos imersos em um mar de pequenos e grandes problemas e tão atarantados com
eles que somos incapazes de vislumbrar horizonte melhor. É isso o que mais me
preocupa, a despeito da gravidade tanto dos casos de corrupção quanto dos
desmandos que vêm ocorrendo.
Falta alguém dizer,
como De Gaulle disse quando viu o desastre da Quarta República francesa e a
derrocada das guerras coloniais, que era preciso manter uma “certa ideia da
França” e mudar o rumo das coisas. Aqui e agora, guardadas as proporções, é
preciso que alguém — ou algum movimento — encarne uma certa ideia de Brasil e
mude o rumo das coisas.
Precisamos sentir
dentro de cada um de nós a responsabilidade pelo destino nacional. Somos
duzentos e dez milhões de pessoas, já fizemos muito como país, temos recursos,
há que voltar a acreditar em nosso futuro.
Diante do desmazelo
dos partidos, da descrença e dos fatos negativos (não só a corrupção, mas o
desemprego, as desigualdades e a falta de crença no rumo) é preciso responder
com convicções, direção segura e reconstrução dos caminhos para o futuro.