Os
investigadores trabalham com a hipótese de que a propina seria referente a um
precatório de R$ 134 milhões da gestão Roseana Sarney (PMDB)
O
novo delator da Operação Lava Jato Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará,
afirmou à Procuradoria-Geral da República que o doleiro Alberto Youssef – peça
central da operação – lhe mostrou no final de 2013 um rascunho indicando “fluxo
de propina” dividido em vários níveis, um deles identificado pela palavra
‘Leão’ – suposta referência ao Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão.
Os
investigadores trabalham com a hipótese de que a propina seria referente a um
precatório de R$ 134 milhões da gestão Roseana Sarney (PMDB), filha do senador
José Sarney (PMDB/AP), em favor da UTC Engenharia.
Apontada
como líder do clube VIP de empreiteiras que formaram cartel para fraudar
licitações bilionárias na Petrobras entre 2004 e 2014, a UTC Engenharia tem em
seu presidente, o empresário Ricardo Pessoa, um dos alvos da Lava Jato.
O
relato de Ceará reforça a denúncia do próprio doleiro Youssef, que afirmou à
força-tarefa da Lava Jato que pagou R$ 3 milhões em propinas para o então
secretário-chefe da Casa Civil de Roseana, João Abreu, em troca da liberação do
precatório milionário da empreiteira.
Ceará
fez dezenove depoimentos à Procuradoria-Geral da República entre 29 de junho e
2 de julho de 2015. O Termo de Declaração número 13 trata especificamente do
precatório.
O
procurador-geral Rodrigo Janot mandou encaminhar ao Ministério Público do
Maranhão cópia desse depoimento do delator. Nele, Ceará disse que “no final de
2013” pegou uma carona de carro com Youssef e ambos passaram na sede da UTC em
São Paulo. Ele contou que ficou aguardando em uma sala de reunião.
“Youssef
se dirigiu às salas dos diretores, não sabendo o declarante com quem ele foi
falar. Ao retornar, Youssef mostrou ao declarante um papel rascunhado, dizendo
que tinha recebido autorização para fechar um negócio sobre um precatório no
Maranhão de cerca de R$ 100 milhões. Youssef estava bastante entusiasmado com o
negócio, que, por isso, o declarante acredita que seria bastante rentável”, diz
o texto da declaração.
Na
ocasião, o governo maranhense tinha dívida de R$ 134 milhões relativa ao
precatório da Constran/UTC. Precatório é título judicial que deve ser honrado
pelo Executivo, mas o credor geralmente entra numa fila sem fim. A ordem
cronológica não pode ser quebrada – a sequência deve ser acatada rigorosamente
pela Fazenda devedora.
Para
“driblar” a imposição legal e a longa espera para obter a liberação da quantia
na frente de outros credores do Maranhão, Youssef teria corrompido assessores
de Roseana Sarney por meio de um auxiliar dele conhecido por “Marcão”,
provavelmente o corretor Marco Antonio Ziegert .
Em
um trecho de seu relato, Ceará citou “Marcão”: “O rascunho que Youssef mostrou
ao declarante na UTC, quando falou do negócio do precatório do Maranhão,
continha indicação de um fluxo de propina em três níveis: o primeiro era a UTC;
o segundo formado por Marcão e Youssef; um terceiro formado por uma pessoa da
qual o declarante não se recorda; e um quarto com a referência ‘Leão’. Depois o
declarante soube que o Governo do Maranhão tem sede no Palácio dos Leões.”
Ceará
afirmou: “Youssef, pelo que o declarante sabe, tratou do negócio do precatório
com um intermediário ligado à então Governadora do Maranhão, Roseana Sarney; o
declarante não tem informações detalhadas a esse respeito; Youssef falou ao
declarante o nome do intermediário da Governadora do Maranhão Roseana Sarney,
referindo-se a um homem conhecido como ‘Marcão’; esse intermediário estava
hospedado no Hotel Luzeiros, em São Luís/MA, juntamente com Alberto Youssef, na
data em que esse último foi preso na Operação Lava Jato.”
Youssef
foi preso na Operação Lava Jato dia 17 de março de 2014 no Hotel Luzeiros em
São Luís. Em depoimento prestado em setembro de 2015, o ex-secretário da Casa
Civil do Maranhão João Abreu negou ter recebido propina em troca de autorizar o
pagamento do precatório da Constran-UTC. Mas ele contou que o corretor Marco
Antonio Ziegert, o Marcão, apontado como elo entre o governo maranhense e a
empreiteira, deixou em seu gabinete uma mala no dia da prisão do doleiro
Youssef.
A
Polícia Federal constatou que Marcão acompanhou Youssef na viagem ao Maranhão.
Em seu depoimento o ex-secretário da Casa Civil disse que estava com Marcão em
seu gabinete para tratar de “investimentos” da Constran no Estado. Ambos
aguardavam a chegada de Youssef, que não atendia os telefonemas.
Defesa
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Roseana Sarney afirmou que “Marcão” é uma pessoa que conhece a família. “Este assunto foi investigado, já tem denúncia recebida pela Justiça e a Roseana foi inocentada. Ela não foi incluída na denúncia. Tudo mais não nos interessa, o processo termina aí para ela”, disse Kakay
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Roseana Sarney afirmou que “Marcão” é uma pessoa que conhece a família. “Este assunto foi investigado, já tem denúncia recebida pela Justiça e a Roseana foi inocentada. Ela não foi incluída na denúncia. Tudo mais não nos interessa, o processo termina aí para ela”, disse Kakay