Afinal, quem é o dono da Cemar?
José Jorge Leite
Soares, diretor de Relações Institucionais da Cemar: da cozinha dos Sarney
As relações da
Companhia Energética do Maranhão (Cemar) com o Sistema Mirante de Comunicação
voltaram às conversas políticas depois que a empresa perdeu R$ 25 milhões do
governo do Estado e escolheu justamente os veículos da família Sarney para
chorar pitangas. Voltou também a pergunta: afinal, quem é o dono da Cemar?
Antes de ser
privatizada em junho de 2000, a Cemar serviu como a porta de entrada do grupo
Sarney no mundo das companhias energéticas estatais. O escritor Palmério Dória
conta em detalhes no Livro “Honoráveis Bandidos”, como Fernando Sarney usou
negócios com a Cemar para conseguir recursos que financiaram a criação do
Sistema Mirante de Comunicação.
O grupo Sarney
controla o setor elétrico no país desde que a Presidência da República caiu no
colo do patriarca, em 1985. Os donos do Maranhão até dezembro de 2014 só
perderam parte do espólio elétrico em janeiro deste ano, quando o senador Lobão
foi demitido do cargo de ministro de Minas e Energia. Ainda assim, os
tentáculos dos Sarney continuam firmes e fortes em empresas energéticas
estatais ou privadas, caso da Eletronorte e da Cemar.
Para explicar como
Sarney continua operando na Cemar mesmo depois da privatização, é preciso
voltar no tempo e rememorar o processo de desestatização da companhia.
Até hoje corre na
Justiça uma ação do Ministério Público Federal que investiga a possibilidade de
subvalorização na privatização da empresa. Para o MPF, a então governadora
Roseana Sarney desvalorizou propositalmente a Cemar com a finalidade de
beneficiar o consórcio de empresas que arremataram a estatal.
O MPF é claro ao
dizer que a operação gerou duplo prejuízo à população, uma vez que uma empresa
que pertencia ao Estado e, portanto, ao povo do Maranhão, foi vendida à preço
de banana com posterior redução da qualidade dos serviços prestados.
E por que Roseana
Sarney vendeu a Cemar à preço de banana? Porque há fortes indícios de que o
negócio beneficiou sobretudo o próprio grupo Sarney. Exemplo claro é a presença
do senhor José Jorge Leite Soares na diretoria da empresa.
José Jorge é amigo
íntimo do empresário Fernando Sarney (há quem diga que seja irmão), de quem
recebeu uma procuração para movimentar a conta do Instituto Mirante. Em 2009 a
ONG foi suspeita de desviar parte de uma verba de R$ 150 mil repassada pela
Eletrobrás para patrocínio cultural de festas.
José Jorge fazia a
ponte para garantir a entrada de recursos públicos do Programa Luz para Todos
dentro da Cemar.
Em matéria publicada
no ano de 2009, o jornal “Folha de S.Paulo” mostrou os detalhes da relação do
grupo Sarney com a Cemar. Segundo a matéria, além de José Jorge, mais dois
amigos maranhenses de Fernando Sarney participavam da operação de arrecadação
de recursos públicos para a Cemar: o então diretor financeiro da Eletrobrás,
Astrogildo Quental, “que tinha como missão agilizar o repasse de verbas do
programa ‘Luz para Todos’ para a Cemar”, e o empreiteiro Henry Duailibe Filho,
dono da Ducol Engenharia, contratada para as obras de eletrificação. Segundo a
Folha, a Ducol recebeu R$ 51 milhões da Cemar.
Trocando em miúdos,
mesmo privatizada, a Companhia Energética do Maranhão continuou sendo um ninho
de negócios lucrativos para os Sarney, que drenaram recursos públicos para a
empresa operando dentro da empresa como se dela fossem os donos de fato.
E o dono da Cemar, o
que comprou a companhia do governo do Estado, nunca ninguém viu no Maranhão