Na entrevista a Cabrini, o parlamentar
negou diversas vezes ter recebido propina ou participado de qualquer esquema
irregular
O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse
já ter falado "algumas vezes" com Michel Temer já na condição de
presidente. "É uma conversa natural, temos uma relação", afirmou o
ex-presidente da Câmara, que terá sua cassação apreciada pelo plenária da Casa
nesta segunda-feira (12). Perguntado pelo repórter Roberto Cabrini, do programa
Conexão Repórter, do SBT, sobre o teor dos diálogos com Temer, Cunha preferiu
manter sigilo. "Conversas com presidentes a gente não revela, a não ser
que parta deles."
Exibido na madrugada desta segunda-feira, o
programa apresentado por Cabrini mostrou a rotina do parlamentar nas últimas
duas semanas - incluindo o momento em que Cunha dá um leve sorriso ao
acompanhar pela televisão, em seu apartamento funcional em Brasília, o desfecho
do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 31 de agosto.
"Não foi uma vitória pessoal, busquei cumprir o meu dever", afirmou,
sobre a deposição da petista.
Foi Cunha quem acatou, como presidente da Câmara,
em dezembro do ano passado, a denúncia que resultaria no impeachment. Ele
também presidiu a sessão da Casa, em 17 de abril, que autorizou a ida do
processo para o Senado e que destitui Dilma provisoriamente. "Não sinto
orgulho, sinto que cumpri minha obrigação de dar curso à denúncia. Foi o
coletivo da Câmara e do Senado que concluiu pela culpa da presidente."
Duas semanas depois de liderar a sessão que tirou
Dilma do Palácio do Planalto, Cunha foi afastado do cargo de deputado pelo
Supremo Tribunal Federal por suspeita de participar de esquemas de arrecadação
de propinas em obras investigadas pela Operação Lava Jato. No início de julho,
ele renunciou ao cargo de presidente da Câmara.
Na entrevista a Cabrini, o parlamentar negou
diversas vezes ter recebido propina ou participado de qualquer esquema
irregular. "Eu não sou corrupto", afirmou. Sobre acusações de que
estaria envolvido em esquema que viabilizou, em 2006, a construção de um
navio-sonda, Cunha disse que, à época, fazia oposição ao então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. "Nunca vi ninguém beneficiar a oposição."
Os diversos delatores que apontaram o deputado
afastado como beneficiário de propina, segundo ele, são "mentirosos",
já que seus depoimentos seriam contraditórios. "Não recebi US$ 5 milhões,
nem um, nem zero." Além disso, disse Cunha, "palavra não é
comprovante".
Ele usou o exemplo de outro peemedebista que é alvo
de denúncias para exemplificar a fragilidade dos relatos de colaboradores da
Justiça. "O (presidente do Senado) Renan Calheiros, por exemplo, tem 11
inquéritos abertos contra ele. No entanto, não houve denúncia."
Cunha voltou a descartar que fará acordo de delação
premiada, em caso de cassação. "Só faz delação quem cometeu crime. Eu não
cometi crime, não tenho o que delatar." Quanto à votação de sua cassação,
disse que não pensa na hipótese. "Confio plenamente nos meus pares que vão
me julgar."
Sobre as contas que possui no exterior, o
ex-presidente da Câmara voltou a alegar que são recursos provenientes de sua
atividade privada, de "30 anos atrás". Com informações do Estadão
Conteúdo.