A avaliação de auxiliares do presidente é de que o
grupo está "exagerando há tempos" na apresentação de denúncias
A forma como a força-tarefa da Lava Jato apresentou
a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira
(14), incomodou até mesmo integrantes do governo de Michel Temer. A avaliação
de auxiliares do presidente é de que o grupo está "exagerando há
tempos" na apresentação de denúncias contra nomes citados no esquema de
corrupção da Petrobras.
Segundo esses assessores presidenciais, as
acusações vêm a público baseadas em delações, "sem provas concretas",
o que pode comprometer a credibilidade da operação.
A avaliação, no dia em que Lula fez sua defesa
pública sobre o caso, permeia o fato de que integrantes da base do governo
Temer também estão sendo investigados, como o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).
Auxiliares de Temer, porém, afirmam que "todos
estão receosos" de externar opiniões contrárias à operação para não passar
a ideia de que o governo quer parar a Lava Jato.
Diante desse cenário, há ainda no Planalto quem
avalie que a repercussão negativa em torno de Lula pode enfraquecer a tese de
golpe com o impeachment de Dilma Rousseff e futuras manifestações contra o
governo do peemedebista.
Segundo esse prognóstico, o episódio deve deixar o
petista acuado e, agora, ele terá que ficar se defendendo das denúncias ao
invés de organizar o PT como oposição a Temer. Nesta terça-feira (13), por
exemplo, Lula se reuniu em Brasília com deputados e senadores petistas para
traçar a estratégia do partido diante do governo.
Nesta quarta, Lula foi denunciado por procuradores
do Ministério Público Federal sob a acusação de comandar o esquema de corrupção
na Petrobras e atuar, junto com a empreiteira OAS, no desvio de ao menos R$
87,6 milhões da estatal.Na denúncia, o petista é acusado de corrupção passiva e
de lavagem de dinheiro, que teria sido feita em parceria com Léo Pinheiro,
ex-presidente da OAS. A acusação pede à Justiça que Lula devolva esses R$ 87,6
milhões, que teriam sido desviados de contratos da empreiteira com a Petrobras
e revertidos em propina. Se o juiz Sérgio Moro acatar a denúncia, Lula vira
réu.
Apesar das avaliações em torno do caso, Temer
evitou comentá-lo em almoço realizado nesta quinta (15) com deputados líderes
do chamado centrão (PSD, PR, PP, PTB e PRB, principalmente). "Tinha muita
gente, não havia clima para isso", resumiu um auxiliar do presidente.
Ao final do encontro, porém, o deputado Paulinho da
Força (SP), líder do Solidariedade, disse que a força-tarefa foi muito dura na
forma como apresentou a denúncia contra Lula, o que deu espaço para que o
petista possa se vitimizar no processo.
Para ele, os procuradores responsáveis pelo caso
precisam "baixar o tom" das denúncias e embasá-las concretamente
antes de apresentá-las ao público. "Da forma como aconteceu, abriu espaço
para que Lula se faça de vítima agora. É pior para a investigação até",
disse o deputado após o almoço com Temer