Um das
maiores batalhas de dependentes químicos durante o tratamento de desintoxicação
é controlar a vontade de voltar a consumir as drogas. Preocupados com isso,
pesquisadores italianos saíram em busca de uma intervenção que pudesse diminuir
a fissura por entorpecentes. Com o uso de pulsos magnéticos, eles provocaram a
região cerebral ligada ao desejo pelas substâncias tóxicas. A técnica, chamada
de estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr), obteve sucesso, com
resultados positivos maiores até do que os das terapias usuais, baseadas na
ingestão de medicamentos. Detalhes do estudo foram publicados na revista European.
Segundo os autores, a técnica poderá ajudar no desenvolvimento de intervenções
mais eficazes.
O estudo surgiu com base em uma pesquisa de outro grupo de cientistas mostrando como o córtex pré-frontal estava ligado à busca compulsiva por cocaína. Estudiosos da Itália resolveram, então, buscar uma alternativa que pudesse modificar a ação dessa área cerebral em dependentes em cocaína. “A EMTr estimula uma região do cérebro que está envolvida no controle inibitório de comportamentos compulsivos, como o uso de cocaína. Estimulando essa área, os impulsos magnéticos estão ajudando o cérebro a controlar essa compulsão. Portanto, a terapia ajuda o paciente a se abster da droga”, detalhou ao Correio Lorenzo Leggio, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto Nacional de Abuso do Álcool e Alcoolismo, na Itália.
O
teste com a técnica foi feito com 32 pacientes que buscaram ajuda em hospitais
do país para se livrar do vício em cocaína. Metade deles recebeu os pulsos
magnéticos e a outra parcela, medicamentos tradicionais. Após quase quatro
semanas (veja infográfico), houve diminuição maior da fissura pela droga nos
voluntários submetidos a sessões de EMTr do que os tratados com remédios.
Também chamou a atenção dos estudiosos o número menor de desistentes no grupo
de participantes submetidos aos pulsos magnéticos.
Se os
resultados positivos se repetirem nos próximos experimentos, acreditam os
autores, a técnica poderá ser incorporada a tratamentos de desintoxicação. “É
importante ressaltar que, no momento, não existem medicamentos aprovados para
transtorno do uso de cocaína, portanto, a EMTr poderia representar o primeiro
tratamento biológico nesse sentido”, destaca Leggio. “Nossa etapa seguinte será
realizar um ensaio maior, em que a EMTr será comparada a um placebo, de modo
duplo-cego (sem que os pesquisadores e os voluntários saibam o que é ingerido
durante os testes). Esse ensaio também precisará ter um seguimento mais longo”,
completa.
Otimismo
Vanessa Teixeira Muller, neurologista e diretora médica da VTM Neurodiagnóstico, no Rio de Janeiro, destaca que o estudo italiano mostra dados importantes e bastante otimistas relacionados aos pulsos magnéticos. O que mais chamou a atenção da especialista foi a comparação da EMTr com os medicamentos geralmente prescritos. “Isso é um grande ganho, pois a técnica pode trazer mais efetividade com menos efeitos colaterais. A questão da segurança é essencial quando buscamos novos tratamentos médicos”, justifica.
Vanessa Teixeira Muller, neurologista e diretora médica da VTM Neurodiagnóstico, no Rio de Janeiro, destaca que o estudo italiano mostra dados importantes e bastante otimistas relacionados aos pulsos magnéticos. O que mais chamou a atenção da especialista foi a comparação da EMTr com os medicamentos geralmente prescritos. “Isso é um grande ganho, pois a técnica pode trazer mais efetividade com menos efeitos colaterais. A questão da segurança é essencial quando buscamos novos tratamentos médicos”, justifica.
Muller
destaca ainda que o uso dos impulsos se baseia em uma teoria conhecida na área
neurológica. Ela explica que a região do córtex pré-frontal dorso lateral,
principalmente o esquerdo, é importante nas tomadas de decisão, pois nos
permite mudar de comportamento de acordo com a necessidade. “Outros trabalhos
apontam que o efeito da droga se dá nessa região. Quando a pessoa tem a
fissura, ela possui um impulso incontrolável pra consumir aquilo”, diz.
A
especialista explica que os pulsos e a intensidade usados nos dependentes
químicos dependem de uma avaliação individualizada. Geralmente, no caso da
cocaína, aplica-se com baixa frequência. “No caso da depressão, por exemplo,
você precisa aumentar a atividade nessa mesma região. São diferentes protocolos
com padrões distintos”, compara Muller