Um dia após a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
membros da PGR (Procuradoria-Geral da República) indicaram que devem endurecer
as negociações de um eventual acordo de delação premiada do ex-presidente da
Câmara dos Deputados.
A avaliação de procuradores ouvidos reservadamente
pela Folha é de que tratativas com um dos principais alvos da Operação Lava
Jato podem desgastar a imagem da PGR.
Com a cassação, Cunha perde foro privilegiado, e as
ações a que responde no STF (Supremo Tribunal Federal) e demais investigações
da Lava Jato devem seguir para a primeira instância.
Sob o risco de ser preso por ordem do juiz Sergio
Moro, Cunha discutiu estratégias de defesa com seus advogados nesta terça-feira
(13), entre elas a possibilidade de delatar. Publicamente, ele tem negado a
possibilidade.
Na análise de integrantes da PGR, um acordo não
seria positivo para a instituição neste momento, a não ser que Cunha apresente
um grande volume de provas documentais, restitua o dinheiro que, segundo as
investigações, desviou da Petrobras —mais de R$ 150 milhões, nas contas dos
procuradores— e cumpra alguns anos de prisão em regime fechado.
Outro ponto que pesa contra o peemedebista são os
sucessivos embates diretos travados entre ele e o procurador-geral, Rodrigo
Janot.
Cunha admitiu em entrevista à Folha que
"errou" ao "confrontá-lo exageradamente" e, na opinião de
aliados, a declaração foi espécie de senha para que iniciasse conversas com a
PGR.
Na discussão sobre possível acordo, procuradores
destacam, por exemplo, o contexto das conversas com a Odebrecht. Num primeiro
momento, havia resistência pelo fato de a empreiteira ser combativa em sua
defesa em relação à Lava Jato e Moro, mas aceitou negociar depois.
Cunha sabe das dificuldades que vai encontrar na
PGR. Ao mesmo tempo, indica que vai lançar mão de "dossiês" sobre
figuras importantes do mundo político, inclusive do centro do governo Temer.
'ALÍVIO E PREOCUPAÇÃO'
Quem esteve com o ex-deputado após a cassação diz
que ele se diz "decepcionado" pelo feto de o Planalto não tê-lo
ajudado. Numa conversa privada, disse a amigo que era "hora de agir".
Diante dos recados que Cunha tem mandado ao
Planalto, ministros de Temer afirmam que a cassação do peemedebista foi vista
com "alívio e preocupação". Interlocutores do presidente dizem ser
"ruim" Cunha cair atirando na direção do governo.
No entanto, avaliam que seria muito pior ficar
"refém" do ex-presidente da Câmara caso ele conseguisse adiar a
sessão de cassação.
Nas palavras de um assessor do presidente, só iria
perdurar o "clima de indefinição" na Câmara dos Deputados, o que
contribuiria para atrasar ainda mais votações de interesse do governo.
Agora, o discurso no Planalto é tratar o assunto
como "página virada" e aproveitar que a pauta da Câmara ficará mais
livre para votar temas como a criação do teto de gastos públicos, considerada
essencial para a retomada da confiança na economia.
Internamente, Temer tem dito que nunca abandonou
Cunha, mas que também não tinha condições de trabalhar para salvá-lo. Uma
resposta às queixas do ex-aliado de que o presidente não fez nada por ele, o
que pode sinalizar retaliações à vista