Apreendido na casa do ex-chefe do GSI, bloco de anotações da Caixa Econômica Federal mostra que ele era o principal estrategista da empreitada golpista de Bolsonaro
A liberação completa na tarde desta terça-feira (26) do relatório final da Polícia Federal que investigou a tentativa de golpe de Estado levada a cabo no Brasil pelo grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve seu sigilo levantado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, trouxe ao conhecimento público um objeto importante e central para se compreender a trama engendrada nos intestinos do poder para mergulhar o país numa ditadura: o caderninho do general Augusto Heleno.
Então chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) durante o mandato de Bolsonaro, Heleno foi alvo de uma operação de busca e apreensão realizada pela PF em sua casa em 8 de fevereiro deste ano, 13 meses após deixar o cargo.
No tal caderninho, da Caixa Econômica Federal, o general da reserva que comandava a arapongagem do governo de extrema direita que tentou subverter o sistema democrático brasileiro anotava absolutamente tudo. Não foi a partir dele, mas a PF passou a ter certeza de que ele era o responsável pela estratégia militar do esquema golpista ao olhar o objeto revelador.
Nas páginas da caderneta, Heleno dar “orientações estratégicas” para não levantar suspeitas do plano e dizia como Bolsonaro e outros integrantes deveria se comportar para evitar rusgas com a opinião pública, como mostra a imagem abaixo.
Ainda nas páginas do caderninho da Caixa, o general mantinha anotações sobre a tentativa de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro por meio da acusação falsa de fraudes, citando inclusive nomes de pessoas e cifras que serviriam para dar credibilidade à desinformação propagada pelos golpistas.
Heleno também fazia anotações relacionadas ao núcleo jurídico do golpe, registrando como deveria ser a participação da AGU (Advocacia-Geral da União) no esquema, tentando dar validade legal às ações ilegais que pretendiam suspender o resultado da eleição perdida por seu grupo. Nota-se que, neste trecho, ele menciona o então comandante da Marinha do Brasil, o almirante Almir Garnier, que segundo a PF foi o único comandante das Forças Armadas que topou participar da ruptura institucional.
Em relação à AGU, pelas anotações feitas pelo ex-ministro do GSI, ela seria vital para se contrapor ao cumprimento de determinações judiciais que fossem emitas por tribunais superiores, sobretudo vindas do STF. Heleno insiste que os pareceres do órgão embasariam os desmandos pretendidos pelo grupo golpista, ameaçando até delegados de prisão, caso não fizessem o jogo dos bolsonaristas.
Sobre sua pasta, o GSI, Heleno enumera em uma das páginas do caderninho quais seriam suas atribuições na estratégia de invalidar as eleições e forçar a permanência de Bolsonaro no poder de forma ilegal e criminosa. A certa altura, ele registra passos relacionados à rocambolesca tese das fraudes eleitorais, citando uma pessoa cujo nome é “Carlos”. Não é possível dizer se o general se referia ao filho do ex-presidente.
Por fim, o general Augusto Heleno deixa expresso que usará a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para monitorar ilegalmente figuras ligadas à esquerda, mencionando o nome de José Eduardo Cardoso, advogado e ex-ministro da Justiça no governo de Dilma Rousseff, e o deputado federal, atualmente ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha.