Desavenças com Carlos Brandão (PSB) passam por eleição na Assembleia, embates judiciais e até convite para casamento do ministro do STF
O jornal Folha de S. Paulo dessa terça-feira, 26, traz ampla matéria sobre o atual cenário que envolve hoje o governador Carlos Brandão e o ministro do STF, Flávio Dino. Na reportagem, a Folha trata as tensões como se fossem entre Brandão e aliados de Dino.
Veja a íntegra:
O grupo político remanescente do ex-governador Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), ensaia um rompimento definitivo com o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB).
O esgarçamento da relação, que se aprofundou nas últimas semanas, passa por tensões no campo político, embates na esfera judicial em ações movidas no STF e até mesmo querelas pessoais. Aliados de ambos falam em clima pesado e não descartam a possibilidade de um rompimento.
Dino foi governador do Maranhão de janeiro de 2015 a abril de 2022, quando renunciou para concorrer ao Senado pelo PSB. Carlos Brandão, então vice-governador, ascendeu ao cargo e foi reeleito há dois anos.
Eleito senador em 2022, Dino ocupou o Ministério da Justiça no governo Lula (PT), foi nomeado para o STF e tomou posse em fevereiro. Desde então, afastou-se da política partidária, mas segue com um grupo de aliados coeso no Maranhão.
Os embates entre Brandão e Dino começaram em fevereiro de 2023, na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão. O então ministro trabalhou pelo aliado Othelino Neto, na época no PC do B e hoje no Solidariedade, mas prevaleceu a deputada Iracema Vale (PSB), bancada pelo governador.
Desde então, ambos deram sinais de afastamento, com embates nos bastidores e raros encontros em solenidades públicas. Segundo aliados, os diálogos em geral aconteciam por meio de intermediários.
Na avaliação dos aliados de Dino, Brandão se afastou da esquerda ao se aproximar de setores conservadores, sendo apoiado inclusive pelo PL de Jair Bolsonaro. Também há acusações de descumprimento de acordos e críticas à nomeação de parentes do governador em cargos no governo.
Uma ação de inconstitucionalidade movida pelo Solidariedade, sigla de Othelino, questionou a nomeação de 14 familiares de Brandão. O ministro do STF Alexandre de Moraes acatou parcialmente a ação em outubro e determinou o afastamento de cinco nomeados pelo governador.
Aliados de Brandão, por sua vez, acusam Dino de interferir na política local mesmo após ascender a uma cadeira no STF. Um dos exemplos citados é a decisão, dias após sua posse na corte, que suspendeu o processo de escolha do conselheiro para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado.
A ação foi movida pelo Solidariedade de Othelino Neto, que rompeu com Brandão em março deste ano. Ele é marido da senadora Ana Paula Lobato (PDT), que assumiu o cargo após a renúncia de Dino para assumir a vaga no STF.
Othelino nega qualquer interferência do ministro da política maranhense: “Não há influência nenhuma. Pelo contrário, a saída de Flávio da política de forma repentina deixou um hiato que só o tempo vai resolver”.
Nesta semana, as desavenças escalaram após vir a público a informação de que Dino não convidou Brandão para a sua cerimônia de casamento no próximo sábado (30) com Daniela Lima, com quem vive em união estável desde 2011. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles e confirmada pela Folha.
Conforme afirmam aliados de Dino, o ministro tem perfil discreto em sua vida pessoal e fará uma cerimônia restrita aos amigos. A avaliação é que, apesar do histórico de relação política, Brandão não tem uma relação próxima no campo pessoal com o ministro.
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O episódio ganhou repercussão duas semanas após aliados de Dino e de Brandão travarem uma nova e renhida disputa pela presidência da Assembleia Legislativa do Maranhão. Iracema Vale e Othelino Neto se enfrentaram, e a eleição terminou empatada, com 21 votos para cada.
Prevaleceu a regra do regimento interno da Assembleia que prevê que, em casos de empate, vence o mais velho. O resultado foi a reeleição de Iracema Vale, dando novo impulso ao grupo do governador na queda de braço com os aliados do seu antecessor.
A decisão foi contestada no STF pelo Solidariedade, que defende a aplicação da regra prevista na Câmara dos Deputados, na qual eleito, em caso de empate, ganha o deputado com mais mandatos —essa regra beneficiaria Othelino. Caberá à ministra Cármen Lúcia julgar o recurso.
Em entrevista à rádio Mirante News FM, Iracema Vale afirmou que o empate na votação na Assembleia foi resultado de “fortes influências externas”, mas não fez referências ao ministro do STF.
Nas votações de projetos na Assembleia Legislativa, deputados mais próximos a Dino têm se posicionado contra o governador. Foi o caso do recente projeto que ajustou a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A proposta teve oposição de nove deputados, incluindo nomes próximos ao ministro, como Othelino, Carlos Lula (PSB) e Rodrigo Lago (PC do B).
A sucessão ade 2026 é o principal pano de fundo da disputa. Aliados de Dino afirmam que haveria um acordo pelo qual Brandão renunciaria para disputar o Senado daqui a dois anos, fazendo ascender ao cargo o vice-governador Felipe Camarão (PT), nome próximo ao ministro e que poderia tentar a reeleição.
Brandão, contudo, afirmou publicamente ao menos duas vezes que pretende cumprir integralmente o seu mandato até o fim de 2026, o que inviabilizaria as pretensões do petista de assumir ao governo.
Nos bastidores, dois nomes são apontados como possíveis candidatos da base em caso de ruptura: Iracema e o secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), sobrinho do governador.
Do lado dos aliados de Dino, o candidato natural é o vice-governador. Mas uma das opções na mesa seria o apoio a uma possível candidatura do prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), que construiu sua trajetória política na oposição aos governos Dino e Brandão.