Regiões de baixa e média renda são as mais afetadas pela crise climática; Na Europa, mortes por temperatura já superam poluição do ar
Um estudo do Instituto Max Planck de Química, baseado em simulações numéricas avançadas, aponta que as mudanças climáticas podem levar à morte de cerca de 30 milhões de pessoas até o final do século. Os resultados da pesquisa reforçam o consenso científico sobre os graves impactos das alterações climáticas e a necessidade de ações imediatas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
As mortes causadas por temperaturas extremas e poluição do ar devem aumentar drasticamente nas próximas décadas. Se em 2000 cerca de 5,7 milhões de pessoas morreram por ano devido a esses fatores, em 2100 esse número pode chegar a 30,3 milhões anualmente. O estudo aponta para um aumento de quase sete vezes na mortalidade por ondas de calor e frio intenso, e de quase cinco vezes nas mortes relacionadas à poluição do ar.
O estudo aponta que os impactos não serão homogêneos, com regiões de baixa e média renda, particularmente no sul e leste da Ásia, enfrentando os maiores desafios. De acordo com os pesquisadores, o envelhecimento da população e os elevados níveis de poluição do ar tornam essas áreas especialmente vulneráveis.
Nos países mais ricos, como Estados Unidos, Japão e várias nações da Europa Ocidental, as mortes por temperaturas extremas têm superado as causadas pela poluição atmosférica. Este fenômeno já é observado em algumas áreas e espera-se que se estenda para nações da Europa Central e Oriental, como Polônia e Romênia, além de partes da América do Sul, como Argentina e Chile.
Projeções globais indicam que, até 2100, cerca de um quinto da população mundial enfrentará riscos de saúde causados por temperaturas extremas, superando as ameaças provenientes da poluição do ar.
Outro estudo, divulgado no The Lancet Public Health e conduzido por pesquisadores do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia apontou que as mortes por calor na Europa podem triplicar até 2100 devido às mudanças climáticas. A pesquisa analisou informações de 1.368 regiões de 30 países, estimando como o aumento das temperaturas afetará as taxas de mortalidade.
Os resultados indicam que, com um aumento de 3°C na temperatura global, as mortes atribuídas ao calor podem crescer de 43.729 para 128.809 até 2100. As mortes causadas pelo frio, que atualmente são mais frequentes, devem apresentar uma leve diminuição, indo de 363.809 para 333.703 nesse mesmo intervalo. O estudo também destaca que as áreas mais impactadas incluem países do sul da Europa, como Espanha, Itália, Grécia e partes da França.
Especialistas de uma equipe internacional também alertaram que, nas próximas décadas, quase cinco vezes mais pessoas devem morrer devido ao calor extremo. Sem medidas contra as mudanças climáticas, a "saúde da humanidade corre sério risco", afirmaram. O calor letal é apenas uma das várias ameaças à saúde humana causadas pelo uso crescente de combustíveis fósseis, conforme o relatório Lancet Countdown.
A pesquisa apontou que, no ano passado, a média global foi de 86 dias com temperaturas potencialmente fatais. Cerca de 60% desses dias ocorreram com uma probabilidade duas vezes maior devido às mudanças climáticas. Além disso, as mortes por calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentaram 85% entre os períodos de 1991-2000 e 2013-2022.
Pesquisadores apontam que o problema não reside apenas na redução das emissões, mas também na adaptação às mudanças climáticas que já estão em andamento. Para minimizar os impactos, é imprescindível adotar estratégias de proteção para populações vulneráveis, como infraestrutura adaptada ao clima, sistemas de alerta para eventos climáticos extremos e políticas públicas voltadas para a saúde.