Custos com doenças e mortes provocadas pelo consumo desses alimentos chegam a R$ 10,4 bilhões por ano
Uma a cada dez mortes no Brasil pode ser atribuída ao consumo de ultraprocessados, de acordo com uma nova pesquisa realizada pela Fiocruz Brasília e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, o custo com doenças e mortes causadas por esses alimentos chega a cerca de R$ 10,4 bilhões por ano.
Os resultados da pesquisa tiveram como base dados de 2019, quando cerca de 57 mil pessoas morreram de forma prematura devido ao consumo de itens como biscoitos recheados, macarrão instantâneo e refrigerantes. O número equivale a 156 mortes por dia atribuíveis aos ultraprocessados - ou 6 mortes por hora.
De acordo com o levantamento, o custo total de R$ 10,4 bilhões por ano está dividido entre:
- R$ 9,2 bilhões milhões/ano por mortes prematuras, custos preveníveis que representam as perdas econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho por todas as causas de morte;
- R$ 933,5 milhões/ano pelos custos com o tratamento no SUS (hospitalares, ambulatoriais e com o programa Farmácia Popular) da diabetes, hipertensão e obesidade;
- R$ 263,2 milhões/ano pelos custos previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e custos por absenteísmo (internações e licenças médicas).
Os pesquisadores ainda mostram que os gastos com as consequências geradas pelos alimentos ultraprocessados equivalem a:
- 2 vezes o que é investido no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) todos os anos;
- 20 vezes o orçamento do Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para Segurança Alimentar e Erradicação da Fome do Fundo de Ciência e Tecnologia;
- 18 vezes mais do que é investido no Programa Cisternas para captação de água;
- 300 vezes mais do que é investido em Cozinhas Solidárias.
Os pesquisadores ressaltam que o valor de R$ 10,4 bilhões é "apenas a ponta do iceberg", uma vez que representa os custos totais da mortalidade por todas as causas e do tratamento de apenas uma parte das 32 doenças associadas ao consumo de ultraprocessados.
"Ou seja, as estimativas são conservadoras já que os custos diretos não incluem todas as doenças associadas a ultraprocessados, limitam-se aos custos federais do SUS, e apenas da população adulta. Também não são contabilizados os custos com doenças na atenção primária à saúde, na saúde suplementar ou nos gastos particulares", diz um trecho da pesquisa.
O levantamento foi feito a pedido da ACT Promoção da Saúde, organização não governamental que atua pela promoção e defesa de políticas de saúde pública, tendo como um dos pilares a luta pela alimentação saudável. Por isso, a organização defende a taxação dos ultraprocessados na Reforma Tributária, para desestimular o consumo desses alimentos.
"O consumo de ultraprocessados têm impactos negativos no SUS e na economia nacional. O imposto seletivo sobre estes produtos é uma medida ganha-ganha muito recomendada, não apenas para reduzir seu consumo e salvar vidas, mas para custear a desoneração tributária de alimentos saudáveis e sustentáveis – inclusive da cesta básica – enfrentando a fome e promovendo justiça fiscal e equidade", finaliza o estudo.