Tese de que comoção impulsiona Marina é falsa
Veio à luz mais uma pesquisa do Ibope,
a primeira desse instituto desde que a morte retirou Eduardo Campos da
corrida presidencial. Eis as novidades: Marina Silva (29%) abriu dez
pontos sobre Aécio Neves (19%). E está a cinco pontos dos calcanhares de
Dilma Rousseff (34%). Num eventual segundo turno, Marina prevaleceria
sobre Dilma com uma vantagem de nove pontos: 45% a 36%.
Atônitos, tucanos e petistas buscam um
lenitivo na ilusão. Afirmam que Marina sobe graças à comoção que a morte
de seu ex-companheiro de chapa ateou no eleitorado. Nessa versão, a
candidatura dela murcharia depois que passasse o choque provocado pela
tragédia. A tese é falsa.
Marina ostenta agora o mesmo tamanho que
exibia em outubro de 2013, quando oDatafolha enviou seus pesquisadores
às ruas, nas pegadas do acordo firmado entre Marina e Eduardo Campos.
Num cenário em que Marina encabeçava a chapa do PSB, ela amealhava os
mesmos 29% que o Ibope lhe atribui agora. Estava 12 pontos à frente de
Aécio, que tinha 17%. Dilma aparecia um pouco mais bem posta do que
agora: 39%.
Ou seja: o potencial de votos de Marina
esperava desde o ano passado para acontecer. Foi sufocado pela falta de
registro da Rede Sustentabilidade na Justiça Eleitoral. Sem partido, o
fenômeno teve de se contentar com o papel de coadjuvante de um projeto
protaginizado por Eduardo Campos. A morte de Campos como que ressuscitou
Marina. De volta ao jogo, ela dá um nó na língua de João Santana.
Também em outubro de 2013, poucos dias
antes da veiculação do Datafolha que atribuía a Marina 29% das intenções
de voto, o marqueteiro do PT dissera o seguinte ao repórter Luiz
Maklouf Carvalho: “A Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014, porque
ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer, lá embaixo, e
ela, sobranceira, vai planar no Olimpo.”
João Santana incluía no rol dos “anões”
Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos. Numa entrevista ao blog,
Marina comentou na época: “Quando a gente olha de baixo pra cima, a
gente vê o que está acima de nós. E o que está acima de nós é o Brasil.
Esta é a posição dos anões, pelo menos a minha. Olhar de baixo pra cima
pra ver o que está acima de mim. E o que está acima de mim é o Brasil.”
Três meses antes, em julho de 2013, o
Datafolha detectara os primeiros efeitos políticos do ronco das ruas de
junho. A popularidade de Dilma despencara 21 pontos. E o segundo turno
em 2014, antes improvável, ganhara impulso. Só João Santana não
acreditava: “Essa pesquisa tem o valor de uma vaia em estádio. Não passa
de catarse temporária. Redobro a aposta: Dilma ganha no primeiro
turno.”, disse ao Painel na ocasião..
A 40 dias da eleição, é mais fácil
enxergar a empáfia de João Santana do que distinguir Davi de Golias. Sob
ameaça de cair do Olimpo, Dilma já não está em posição tão sobranceira.
Talvez tenha de se envolver na antropofagia de anões.
Foto:
A candidata Marina Silva (PSB) abraça a candidata à reeleição, Dilma
Rousseff (PT), ao lado do candidato Aécio Neves (PSDB), no estúdio da TV
Bandeirantes, minutos antes do primeiro debate entre presidenciáveis
das