Temer erra: ao transformar CGU em ministério, Temer enfraquece o órgão
O
presidente em exercício, Michel Temer, transformou a Controladoria Geral da
União (CGU) em ministério, desvinculando a entidade do âmbito da Presidência da
República. Entidades da sociedade civil e servidores da CGU não gostaram de
decisão e estão se mobilizando para que o órgão mantenha a estatura ministerial
anterior.
De
acordo com Anjuli Tostes, servidora da CGU e integrante da Frente pelo Controle
e Combate à Corrupção, a mudança imposta pelo novo governo enfraquece a atuação
como órgão de controle de todo o Poder Executivo Federal. “É preciso firmar a
CGU como órgão de Estado e não de governo. Tememos a politização do
ministério”, explica. Outro ponto destacado por Tostes é que a desvinculação da
Presidência da República deixa a CGU no mesmo nível institucional dos
ministérios que são auditados pela entidade. “Desconstrói o projeto criado nos
últimos anos. Deixar a CGU no bolo dos ministérios coloca a autonomia relativa
que tínhamos por terra”, afirma.
Com
a mudança, a CGU agora se chama Ministério da Transparência, Fiscalização e
Controle. As entidades e servidores também acreditam que a mudança de nome pode
trazer prejuízo para o órgão, que desde a criação é conhecido nacional e
internacional com a antiga nomenclatura, o que facilita recebimento de
denúncias e contato para parcerias.
Os
auditores recolhem assinaturas para um abaixo-assinado contra as mudanças. Veja aqui.
Na
quinta-feira (12), após o anúncio das mudanças cerca de 500 servidores da CGU
em Brasília pararam de trabalhar em protesto. As unidades do Maranhão, Piauí e
Mato Grosso do Sul também tiveram paralisações. Depois de assembleia geral de
hoje, os servidores estão em estado de mobilização permanente para reverter a
mudança.
No
ano passado, o próprio governo Dilma chegou a cogitar mudanças na CGU, que
perderia o status de ministério e ficaria vinculada à Casa Civil ou ao
Ministério da Justiça. Na época, o ex ministro-chefe do órgão, Jorge Hage
destacou a importância do status ministerial da CGU para investigar e punir
responsáveis por desvios em compras públicas e na contratação de serviços, por
exemplo. Para ele, sem o status, o órgão perde ria o poder de aplicar as
punições.
Apesar
das mudanças serem prejudicais, há algum tempo entidade de classe da CGU
reclamam do enfraquecimento sistêmico do órgão. No final de 2015, a Associação
Nacional dos Auditores Federais de Controle Interno (Anafic) alertou sobre a
diminuição orçamentária e do número de servidores. A entidade já falava, à
época, da necessidade de uma Lei Orgânica própria para que a CGU não ficasse à
mercê do Chefe do Poder Executivo e criasse mais autonomia.
Para
o secretário-geral do Contas Abertas, Gil Castello Branco, o ideal é que a CGU
tenha uma lei orgânica que a torne verdadeiramente independente, com mandato
para os seus dirigentes não coincidentes com o do presidente da República. No
momento atual, entretanto, é importante que não perca o status de órgão
vinculado à Presidência. Castello Branco pondera que é necessário que se pense
a CGU como órgão de Estado, independente do seu status administrativo.
“Cabe
lembrar que a Polícia Federal conseguiu ser reconhecida como um órgão de
Estado, mesmo sendo vinculada ao Ministério da Justiça. O essencial é que haja
a valorização da carreira, um bom plano de cargos e salários, remunerações
adequadas, treinamentos permanentes e a elevação dos investimentos”, explica.
PEC 45
As
atividades de controle interno da administração pública poderão ganhar respaldo
constitucional com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2009, que está
pronta para ser votada. Pela PEC, o controle interno será desempenhado por
órgãos de natureza permanente e exercido por servidores organizados em
carreiras específicas.