Maranhenses
que ainda não sabem ler estão tendo oportunidade com os círculos de cultura do
‘Sim, Eu Posso!’. Foto: Divulgação
“Eu me sinto feliz porque aprendi um pouco graças a
Deus. Amei meus amigos da sala, todos são maravilhosos, vou ficar com muita
saudade de todos”. O trecho da carta escrita por Valdener de Moura Leite, do
município de São Raimundo do Doca Bezerra, revela sua satisfação por participar
do ‘Sim, Eu Posso!’, que já alfabetizou quase 70% dos alunos inscritos no
programa este ano no Maranhão. Ao todo, 9.368 maranhenses aprenderam a ler e
escrever em apenas seis meses.
A carta de Valdener, endereçada ao governador
Flávio Dino, pede a continuidade do programa no estado. O pedido não é para
menos. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 19,31% da população maranhense com 10 anos ou mais não sabe
ler e escrever. Isso faz do Maranhão o quarto estado com o maior índice de
analfabetismo, ficando atrás apenas de Paraíba, Piauí e Alagoas.
Por meio de um inovador método de ensino, concebido
pelo Instituto Pedagógico Latino-Americano e Caribenho de Cuba (Iplac) e aliado
aos círculos de cultura da pedagogia de Paulo Freire, o ‘Sim, Eu Posso!’ ajuda
jovens, adultos e idosos a vencer o analfabetismo em apenas oito meses.
Valdener de Moura Leite está aprendendo a ler com o ‘Sim, Eu Posso!’ e escreveu uma carta para o governador Flávio Dino. Foto: Divulgação |
O programa ‘Sim, Eu Posso!’ foi implantado pelo
Governo do Estado em oito municípios maranhenses. O programa é gerido pela
Secretaria de Estado da Educação (Seduc) com a coordenação da Secretaria de
Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) em parceria com o
Movimento Sem Terra (MST), detentor da metodologia de alfabetização.
Números do desenvolvimento
Em seis meses, o ‘Sim, Eu Posso!’ já alfabetizou
9.368 maranhenses. No total, são 14.040 educandos que o programa tem como meta
ensinar a ler e escrever até dezembro deste ano, em municípios com baixo índice
de desenvolvimento humano. As cidades contempladas são:Itaipava do Grajaú,
Jenipapo dos Vieiras, Aldeias Altas, Água Doce do Maranhão, Santana do
Maranhão, São Raimundo do Doca Bezerra, São João do Carú e Governador Newton
Bello.
A população destes municípios também é beneficiada
com outras ações do Plano Mais IDH, idealizado pelo governo estadual para
melhorar o IDH em um total de 30 cidades maranhenses. A iniciativa contempla
projetos nas áreas de educação, saúde, saneamento e infraestrutura, trabalho e
renda, cidadania, dentre outras áreas.
Investimentos e ampliação
Somente para a primeira fase do ‘Sim, Eu Posso!’ no
Maranhão, correspondente ao ano de 2016, o Estado investiu R$ 7.380.022,90.
Para a execução do programa foi montada uma extensa equipe de voluntários
bolsistas, contratados por meio de processos seletivos. Ao todo, são 702
alfabetizadores e 71 coordenadores de turma. Na segunda etapa do programa,
referente a 2017, serão 32 mil pessoas alfabetizadas em 20 municípios a serem
escolhidos. A segunda fase está prevista para começar em abril do ano que vem.
O valor do conhecimento
Aos 49 anos, Francisco José Rocha dos Santos começa
a escrever as primeiras linhas e faz planos para o futuro. “Vou fazer muitas
coisas, um trabalho melhor, porque hoje em dia quem consegue um serviço melhor
é quem sabe ler. Para quem não sabe, é serviço pesado, brutal”, falou o
educando, de Água Doce do Maranhão. “O que vale é o estudo hoje, porque hoje em
dia, se a pessoa não tiver um estudo, nada feito”, declarou.
O valor do conhecimento também trouxe ânimo novo
para a vida de Emília Damiana do Carmo, aluna do ‘Sim, Eu Posso!’ aos 48 anos
de idade. “Já estou lendo um pouquinho e isso mudou muitas coisas na minha
vida. A gente se diverte mais porque a gente está aprendendo, então eu estou
achando muito bom”, disse a aluna dos círculos de cultura de Aldeias Altas.
Justiça social
Maranhenses que ainda não sabem ler estão tendo oportunidade com os círculos de cultura do ‘Sim, Eu Posso!’. Foto: Divulgação |
Para o secretário de Estado da Educação, Felipe
Camarão, o programa de combate ao analfabetismo também é uma forma de corrigir
décadas de descaso do poder público para com a população mais carente do
estado. “Muitos maranhenses ainda não possuem qualquer nível de alfabetização,
pois nunca frequentaram a escola. São pessoas à margem da sociedade, com
oportunidades profissionais e pessoais negadas. O ‘Sim, Eu Posso!’ vem para
transformar a vida dessas pessoas, para que a gente possa erradicar esta chaga
que é o analfabetismo”, declarou Camarão.