Nos próximos dias, o presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), poderá colocar em votação a
denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer,
em que ele é acusado de corrupção passiva, num caso inédito na história do
Brasil. Ao que tudo indica, a oposição não tem os 342 votos necessários para
que Temer seja investigado, o que indica a tendência de vitória do Palácio do
Planalto.
A votação, no entanto, poderá
ocorrer sob o impacto da pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta quinta-feira, que
mostrou que Temer é aprovado por apenas 5% dos brasileiros. Mais do que isso, o
levantamento também indicou que 87% não confiam em Temer e que nunca a
presidência da República esteve tão mal avaliada na história do País. Ou seja:
os deputados que votarem com Temer estarão votando contra a maioria absoluta da
população e, portanto, contra os interesses de seus próprios eleitores.
Pode ser que os parlamentares
decidam seguir os conselhos do deputado Carlos Gaguim (Podemos-TO), que disse
que "o povo esquece isso até as próximas eleições". Ou que muitos nem
estejam pensando na própria reeleição, mas apenas nas emendas parlamentares
liberadas por Temer nas últimas semanas. Só em julho, foram mais de R$ 2
bilhões, dias antes do anúncio do maior aumento da gasolina em 13 anos. Aliás,
a pesquisa CNI/Ibope foi feita antes do tarifaço – o que indica que sua
aprovação pode ser ainda inferior a 5%.
Até agora, o Palácio do
Planalto não demonstrou o menor pudor em abrir a torneira de gastos
desnecessários com deputados, cavando o maior déficit fiscal da história do
País, que anda na casa dos R$ 20 bilhões mensais, ao mesmo tempo em que
praticamente zera os investimentos produtivos e os gastos do Programa de
Aceleração do Crescimento. É uma receita que aprofunda a recessão que pesa
sobre todo o País, mas preserva os parlamentares, que são também os juízes de
Temer. Que cada deputado calcule o custo-benefício de sua decisão e que os
eleitores não tenham memória curta.