A
enfática reação dos governadores à tentativa do ministro Carlos Marun de
chantageá-los - só receberiam empréstimos da Caixa Econômica Federal os que
obrigassem os deputados de seu estado a aprovar a reforma da Previdência –
revela o tamanho do desastre da manobra, que poderá enterrar, definitivamente,
o projeto.
E
o tamanho do cérebro do novo braço direito de Temer.
Marun
comprometeu todo o esforço desenvolvido pelo governo até então.
Em
vez de obter os votos que faltavam colocou em risco os que o governo já tinha,
pois recairá sobre os deputados que votarem a favor e sobre seus governadores a
suspeita de que sucumbiram à chantagem.
E
com que cara eles vão pedir votos nas eleições de 2018?
Com
cara de quem se ajoelha diante das ameaças inconstitucionais de um ministro?
Marun
prestou um grande favor aos que são contrários à reforma!
Certamente
inspirado por seu mestre e guru, Eduardo Cunha, que o orienta mesmo de trás das
grades, o truculento comandante da tropa de choque do agora presidiário
inventou de usar o método preferido do seu mentor – a chantagem – mas com as
pessoas erradas: ninguém mexe com governadores de estado impunemente.
Chantagista
de primeira viagem, o sósia de João Bafo-de-Onça dos gibis do Tio Patinhas
desconhece que governadores não podem ser tratados do mesmo modo que ele – e
seu ídolo - tratam seus colegas deputados. Um deputado responde por 100 mil
votos, 200 mil votos. Um governador responde por milhões de votos.
Não
pode, jamais, um ministro colocar um governador contra as cordas, ainda mais de
forma explícita como essa.
O
papel dos governadores sempre foi essencial na história republicana,
principalmente quando atuaram em conjunto.
Os
governadores de Minas e de São Paulo conspiraram e colocaram no poder a
ditadura militar, em 1964; vinte anos depois, governadores de oposição à
ditadura a derrubaram com a campanha das Diretas
Já.
Esta
foi a segunda ideia infeliz de Marun em menos de um mês. A primeira foi pedir a
prisão do ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot no relatório da CPI
da JBS, da qual teve de recuar em seguida.
Mas
dessa tentativa de chantagem não há como Marun recuar.
Se
a votação de 19 de fevereiro estava a caminho do telhado, agora ela subiu.