POESIA
DE LUTO – Nossa homenagem a Nauro Machado…
O poeta e escritor maranhense Nauro Machado faleceu, na madrugada deste
sábado (28), no Hospital UDI, em São Luís, onde se encontrava internado desde a
última terça-feira (24), após realizar uma cirurgia no intestino, deixando
a poesia e a cultura de luto. Considerado o maior poeta do Maranhão da
atualidade, ele estava com 80 anos e deixa uma obra literária insuperável
que vai ficar eternizada na história da literatura maranhense e brasileira.
Filho de Torquato Rodrigues Machado e Maria de Lourdes Diniz Machado,
ele foi casado com a também escritora Arlete Nogueira da Cruz. Poeta
autodidata com vasto conhecimento em artes e filosofia, comparado por alguns
críticos a Fernando Pessoa, era original por ser poeta universal entre
seus contemporâneos mais imediatos, como Ferreira Gullar, Lago Burnett, José
Chagas e Bandeira Tribuzi.
Se Gullar discute a própria forma poética, Nauro Machado questiona
a própria essência e destinação do ser humano, sem deixar de cultivar uma
linguagem poética e uma técnica de versos exemplares. Sua obra apresenta traços
de reflexão existencial angustiada e violenta que encontra poucas comparações
na lírica de língua portuguesa.
Exerceu diversos cargos em órgão públicos entre eles, Detran e Emater, e
também na Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão. Foi casado com a
também escritora Arlete Nogueira da Cruz.
Poesia
Uma das marcas do poeta Nauro Machado era retratar o cotidiano maranhense com simplicidade e liberdade poética. Sempre viveu em São Luís, ausentando-se apenas por breves períodos, sobretudo para o Rio de Janeiro para publicar boa parte de suas obras. No entanto, grande parte de sua vida Nauro dedicou à sua grande paixão, a poesia.
Uma das marcas do poeta Nauro Machado era retratar o cotidiano maranhense com simplicidade e liberdade poética. Sempre viveu em São Luís, ausentando-se apenas por breves períodos, sobretudo para o Rio de Janeiro para publicar boa parte de suas obras. No entanto, grande parte de sua vida Nauro dedicou à sua grande paixão, a poesia.
Recebeu diversos prêmios, dentre eles Academia brasileira de letras e da
União brasileira de Escritores; teve varias de suas obras traduzidas para o
alemão, francês e inglês.
Em novembro de 2014 publicou um livro, com o título: “Esôfago Terminal”,
cujas poesias remetem a dor e a superação da sua luta contra o câncer.
Em outubro de 2015 recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, concedido
pelo Reitor da Universidade Federal do Maranhão,
Em novembro de 2015 lançou seu último livro em vida: “O baldio som de
Deus”. Na ocasião revelou ter cinco livros prontos, ainda não publicados.
ALGUMAS
POESIAS DE NAURO MACHADO:
CALENDÁRIO
Tomaste parte em
nenhuma outra guerra.
Não perdeste pés ou mãos dentro desta.
Não abriste túmulo em nenhum lugar.
Nada quiseste além dos teus haveres.
Teu país de bois na aurora plantados,
levou-o o tempo na usura do ocaso.
Fizeste nada sábado, domingo,
segunda, terça, quarta, quinta e sexta.
Igual a todos, somaste semanas,
Unindo a noite ao dia e o dia às noites.
Escuta: o tempo passa! E o teu passou.
Passou o bonde, o colégio, a criança.
Já o adulto vai-se: está chegando ao fim
como um ronco doído em cosa podre,
como um enlatado para ninguém.
Made in Brazil. Tonel à água lançado
No porto noite. Minha família! Ó alma.
Não perdeste pés ou mãos dentro desta.
Não abriste túmulo em nenhum lugar.
Nada quiseste além dos teus haveres.
Teu país de bois na aurora plantados,
levou-o o tempo na usura do ocaso.
Fizeste nada sábado, domingo,
segunda, terça, quarta, quinta e sexta.
Igual a todos, somaste semanas,
Unindo a noite ao dia e o dia às noites.
Escuta: o tempo passa! E o teu passou.
Passou o bonde, o colégio, a criança.
Já o adulto vai-se: está chegando ao fim
como um ronco doído em cosa podre,
como um enlatado para ninguém.
Made in Brazil. Tonel à água lançado
No porto noite. Minha família! Ó alma.
Masmorra
Didática, 1979
FILA
INDIANA
Um atrás do
outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, continuam
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, continuam
(a conduzir seus
madeiros
na perícia dos próprios dramas).
na perícia dos próprios dramas).
um após do
outro, atrás um do outro,
anos após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, e de novo
anos após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, e de novo
um atrás do
outro, atrás um do outro,
até a surdez final do pó.
até a surdez final do pó.